sexta-feira, 25 de março de 2011

Reflexão

Ninguém ignora hoje, que as medidas draconianas que caracterizam as várias versões do PEC não colhem a simpatia do Partido Socialista, muito menos junto dos seus eleitores. Não é menos verdade que o Programa do Partido Socialista voltou para a gaveta tão depressa como dela saiu, em grande parte por força da crise internacional, cuja origem é hoje sobejamente conhecida, apesar de a UE, pouco ou nada ter aprendido com ela. À esquerda, tem havido terreno fértil para que os partidos recuperem os desígnios anti-capitalistas, patronato e até Europeus. Já no espectro da direita, surge uma audaz e original teoria, cuja argumentária coloca na génese do problema «o Estado» e não a total ausência de regras e regulação dos mercados com um evidente deficit de intervenção dos Estados em certos sectores da economia. Chegados aqui, pode-se afirmar com confortável segurança que o Partido Socialista tomou um conjunto de medidas ao arrepio do que havia prometido no programa eleitoral contrariando tudo aquilo que caracteriza a matriz da sua ideologia partidária. Pior, fê-lo sem a convicção de que elas tivessem o efeito pretendido e tantas vezes anunciado «Acalmar os "mercados"». Não podemos, contudo ignorar que se não o tivesse feito, não poderia apresentar-se junto dos seus parceiros europeus e reafirmar o obvio. O problema das dívidas soberanas havia já ultrapassado a dimensão individual dos países e reclamava uma abordagem concertada ao nível europeu pela defesa do Euro e do projecto europeu. Foi um Partido Socialista que, apesar do seu enraizamento popular e defesa de uma sociedade mais solidária, justa e fraterna implementou um vasto conjunto de medidas austeras com efeitos devastadores para a sociedade e para a nossa economia, colocando em causa a sua matriz ideológica, por força da extraordinária situação e face aos desafios em que vivemos. A questão com que nos enfrentamos hoje é a seguinte: Que medidas teria adoptado (adoptará) um partido que se assume com uma ideologia marcadamente liberal e que defende o desmantelamento encapotado do Estado...?

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