quinta-feira, 7 de março de 2013

Hugo Chavez, libertador e/ou vilão?

Raras foram as vezes em que concordei com as opiniões dominantes, repletas de visões idílicas relativamente à realidade Latino americana e Venezuelana, fruto de um certo romanticismo nostálgico dos tempos moços que remontam à luta do Che Guevara, da canábis e do amor livre e despreocupado que foi desvanecendo com o passar dos anos, tendo dado lugar à gravata, ao cartão de crédito, às férias na neve e aos passeios domingueiros nos outlets. 
Hugo Chávez foi inquestionavelmente um líder politico a quem ninguém pode ficar indiferente, uns pela sua particular irreverência ao enfrentar a histórica hegemonia Norte Americana na região e no mundo e na criação de políticas sociais de apoio a uma significativa parte dos excluídos da renda petroleira, outros tantos pela forma impiedosa e cruel com que perseguiu todos aqueles que resistiram à implementação dum estado unipessoal e totalitário com evidentes marcas de destruição dos valores da tolerância, da liberdade e da institucionalidade democrática.
O tempo da história seguramente se encarregará de fazer justiça, a uns e a outros…!

Nota: retomo este espaço apís algum tempo ao mesmo momento em que Chavez parte, ironias...

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Cavaco vai….


Seguir em frente: Nomear um novo executivo com o máximo de representatividade politica, com a duração de 1 ano (depois eleições) traçando de forma clara um rumo diferente, norteado pela equidade no sacrifício e com politicas bem definidas de estímulos ao crescimento...talvez, porque não?!

Abrandar: Após ter consultado os conselheiros de estado e face à evidente descredibilização dos líderes partidários perante a sociedade, apelar aos partidos da coligação para que indiquem uma liderança alternativa que acarretaria a subsequente remodelação de todo o restante executivo.

Inverter a marcha: Reconhecer aquilo que é hoje evidente para o cidadão comum, o divórcio entre o governo e governados é irreversível, assim sendo, a opção de prolongar a coligação, para além de inútil, teria consequências catastróficas, quer sociais quer económicas. Cavaco convoca eleições antecipadas no mais curto prazo constitucional, após receber a garantia de ratificação por parte dos partidos subscritores do memorando da troika com as suas metas, tendo-se mostrado indisponível para viabilizar um futuro governo sem maioria clara e estável.

Estacionar: Apelar ao sentido de estado dos partidos políticos, responsabilidade dos parceiros sociais, e paciência dos portugueses e deixar que este governo siga o seu caminho trasvestido com umas perucas e lentejoilas novas. 

A vida tem destas coisas…Cavaco está hoje confrontado com um problema para o qual muito contribuiu, afinal de contas este ´"filho" também é seu!

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Tratado Europeu


Defendo uma revisão Constitucional que acolha um Tratado que contemple a aplicação de sanções automáticas a Estados Membro cuja taxa de desemprego exceda os 5%, que tenham excedentes orçamentais consecutivos acima de um determinado rácio, que pratiquem dumping social/fiscal e que acomodem políticas discriminatórias e xenófobas...!

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

No presente com uma visão de futuro no passado


Nunca pensei que fosse possível, mas as denúncias mais contundentes e destemidas contra as políticas do actual governo não vêm do PS, mas sim do PCP e até do BE (diga-se, em abono da verdade, co-responsáveis pela eleição do actual governo). A nossa legislação Laboral foi revista 4 vezes nos últimos anos e todas as alterações visaram, em nome da melhoria da nossa competitividade da nossa economia, uma redução progressiva e significativa dos direitos dos trabalhadores. Os argumentos nunca foram originais, uma e outra vez, o fim do excesso de rigidez e do garantismo existente no mercado laboral foi apontado como a panaceia para os problemas de competitividade da nossa economia. Pois bem, chegados aqui, nada mudou no que concerne à nossa competitividade, o mesmo não se poderá dizer relativamente ao equilíbrio das relações entre o capital o trabalho. A CGTP apresenta-se hoje como a única força sindical que legitimamente defende os direitos dos trabalhadores, uma vez que a UGT assinou a sua sentença de morte!
O retrocesso do país à década de 60 parece ser um objectivo inamovível deste governo, décadas de conquistas sociais resultado do esforço geracional, milhares de horas de negociações e de acordos colectivos de trabalho são olimpicamente ignorados e atirados para o lixo. Haverá alguém que acredite que estas alterações vão finalmente aumentar o emprego, agradar os “mercados” ou mesmo melhorar o desempenho da nossa economia? Eu não, mas provavelmente, com o passar dos anos, estou a ficar irremediàvelmente  contaminado” pelos ideais Marxistas…?!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Uma dimensão desconhecida...

Admito que ultimamente tenho andado meio atordoado com a sucessão de acontecimentos. Por vezes como um vulgo pugilista que, estando encostado às cordas, procura em vão uma oportunidade para encher os pulmões e recuperar a compostura antes do próximo golpe ser desferido. É difícil encontrar uma narrativa coerente face ao caminho que o País e a Europa parecem ter adoptado. A forma como a crise financeira está a ser encarada pelas suas lideranças seria digna de um episódio da mítica série de televisão The Twilight Zone dos anos 80. Subitamente, todas as características e conquistas, fruto de décadas de avanços e recuos, que permitiram que a União Europeia fosse vista aos olhos do mundo como uma referência de paz e irmandade entre Nações tão díspares, e que permitiram que uma das zonas mais bélicas do planeta vivesse tempos de paz duradoura, se transformassem em pecado capital merecedor de severa punição. Sem querer aprofundar as causas que estiveram na origem desta crise financeira mundial…não deixa de ser incompreensível que, em nome de um pretenso “ajustamento” das economias, se tenha instalado um sentimento unanimista de auto flagelo colectivo, mas sobre tudo, um estranho e assustador Ritual de adoração pela austeridade.
Há quem acredite que apenas nos resta exorcizar os nossos “pecados” com a bênção dos mercados, já eu temo que no final da cerimonia, quando a “causa” tiver perdido os seus fiéis, não haverá forma de reparar o irreparável…!
nos queira convencer

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Subir a escada...

Hoje acredito ter feito um bom investimento, não dei ordem de compra de acções no mercado de valores nem comprei credit default swap de nenhuma dívida soberana, dei (pela 1ª vez) um dia do meu vencimento por uma causa..., pela construção de um novo paradigma onde as pessoas sobem uns degraus na pirâmide dos valores, mas sobretudo por uma sociedade mais humanista, solidária e fraterna!

domingo, 30 de outubro de 2011

Sídrome de Estocolmo

O tempo tem dado razão a quem, em nome da defesa do país e por saber que a Europa tinha de mudar de políticas para enfrentar a crise das dívidas soberanas, foi ganhando tempo (de PEC em PEC). Hoje, que a própria UE e FMI já mudam a sua politica, temos um governo que, não apenas milita nas politicas caducas que conduziram ao caso da Grécia, como decide ir para além daquilo que lhe é pedido. Ora, importa desmistificar que a estratégia deste governo nada tem de ver com finanças ou consolidações orçamentais, estamos perante, isso sim, uma questão ideológica. Aproveitar o momento e as circunstâncias políticas verdadeiramente excepcionais para levar a cabo um plano que mudará o país de forma irreversível, o seu equilíbrio social e a sua correlação de forças. Teremos dentro de apenas dois anos um país desfigurado e ter-se-á feito finalmente um ajuste de contas com o passado! O mais assustador é a passividade colectiva que se vive hoje no país, como se os portugueses tivessem desenvolvido o sídrome de Estocolmo.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Os heterónimos de Passos

O Indignado

«A campanha do PS a dizer que o PSD quer tirar tudo a toda a gente é a coisa mais desonesta que eu tenho visto em política»

«Já ouvi o primeiro-ministro dizer que o PSD quer acabar com o 13.º mês, mas nós nunca falámos disso e é um disparate»

«A ideia que se foi gerando de que o PSD vai aumentar o IVA não tem fundamento (áudio) http://ow.ly/4p8OJ»


O Papão

«Se continuássemos a empurrar os cortes na despesa com a barriga desta forma, acabaríamos o ano com mais mil milhões de euros de défice real.»

«O que está em jogo é uma de duas opções: ou o PSD lidera com maioria ou temos mais do mesmo, com PEC atrás de PEC sem que a economia cresça.»

«A pior coisa é ter um Governo fraco. Um Governo mais forte imporá menos sacrifícios aos contribuintes e aos cidadãos http://ow.ly/4lDyt»

O Sabujo

«O Governo está-se a refugiar em desculpas para não dizer como é que tenciona concretizar a baixa da TSU com que se comprometeu no memorando.»

«O aumento de impostos previsto por este Governo no documento que assinámos com a UE e o FMI é mais do que suficiente»

«Temos de apostar na economia, mas na economia que cria emprego, não na economia que cria rendas aos amigos do poder.»

«Mas o sacrifício das empresas e famílias não foi suficiente para equilibrar as contas públicas. O esforço tem de começar pelo próprio Estado»


O Profeta

«Se formos Governo, posso garantir que não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português.»

«Vamos ter de cortar em gorduras e de poupar. O Estado vai ter de fazer austeridade, basta de aplicá-la só aos cidadãos.»

«Não podemos colocar a austeridade toda do lado das pessoas e nenhuma do lado do Estado. Foi isto que transmiti ao Governo»


O Mendaz

«O PSD chumbou o PEC 4 porque tem de se dizer basta: a austeridade não pode incidir sempre no aumento de impostos e no corte de rendimento.»

«Se vier a ser necessário algum ajustamento fiscal, será canalizado para o consumo e não para o rendimento das pessoas http://ow.ly/4lAHM»

«Fica o compromisso expresso de que o PSD não afectará as pensões mais degradadas ou as reformas como previa o PEC http://ow.ly/4lAeo»

«Estas medidas põem o país a pão e água. Não se põe um país a pão e água por precaução. http://ow.ly/4fwSE»
 
Nota: Inspirado no artigo da F.Cancio.no DN.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

BPN - Bancas, Porque Não?! II



Tenho de admitir, eu estou para as finanças como Sócrates está para o Castelhano. Ainda assim, tenho alguma dificuldade em compreender como é que com urgência se Nacionaliza um Banco para depois o reprivatizar por um valor simbólico. Disseram-nos que era em nome da estabilidade do sistema financeiro e como todos sabemos, uma Banca forte é sinónimo de uma Sociedade feliz e próspera.
Pois bem, a Banca respirou de alívio e os contribuintes despejaram uns milhares de milhões seus sobre este simpático Banco, enquanto os responsáveis da falência do Banco e a justiça andam entretidos, numa espécie de jogo da cabra cega que promete durar até a justiça cabra se cansar.
Depois tivemos a visita da Troika que recebeu em audiência todos aqueles que lixam lideram os sectores mais importantes do país para ouvir todas as recomendações, queixumes e desejos para mudar o país, a verdade é que o BPN não resistiu à determinação e apetite dos investidores. Seria vendido a qualquer preço e com dia marcado, apesar de todo o dinheiro nele empenhado.
Ora bem, o Contribuinte Paga – 2.400 Milhões + 550 Milhões (que o Estado vai injectar) e ainda vamos indemnizar 830 dos actuais funcionários que o comprador não quer. Já Comprador leva - Todo o património do BPN por 40 Milhões!

Não seria mais baratinho vender o património do BPN, indemnizar todos os seus funcionários e evitar ainda ter de pagar ainda essa espécie de dote que custa 550Milhões?!
É caso para dizer - Há cada negócio da China Angola!!

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Gato por Lebre

A Lebre (Junho 2011)



O Gato (Julho 2011)

«Pedro Passos Coelho, questionado sobre as implicações do corte na despesas, afirmou que na administração indirecta do Estado haverá despedimentos. No caso dos funcionários públicos haverá rescisões amigáveis, mas noutros casos como fundações e instituições o governo vai proceder à sua extinção, diminuindo as transferências do Estado para as indemnizações compensatórias, garantiu o primeiro-ministro.»

Esbulho Social

Proposta de Revisão Laboral:

“Cada funcionário despedido, deve indemnizar a respectiva entidade patronal no montante equivalente a 10 dias de trabalho por cada ano laboral. Esta medida visa actualizar e corrigir alguns dos aspectos que mais tem prejudicado as entidades patronais e impedido o aumento de competitividade do País!"

Despacho:

Implemente-se durante o Verão!

terça-feira, 19 de julho de 2011

O Acrobata do dia é...


«Macário Correia já é a favor de portagens na Via do Infante» fonte
“Neste contexto, com as medidas da Troika em cima da mesa, com os principais partidos políticos do arco da governabilidade comprometidos com a Troika, não se antevê qualquer possibilidade desta situação de isenção ser, digamos assim, considerada e nem sequer aprovada por qualquer destes partidos políticos que estão comprometidos com a situação financeira dramática que o país naturalmente tem”, afirmou Macário Correia à Antena 1.
Para o autarca social-democrata, “a época de argumentação infelizmente passou e o clima neste momento está muito condizente com uma certa aceitação”.
Macário Correia reconhece que a introdução de portagens na Via do Infante, “não será certamente uma solução de grande apreço por ninguém no Algarve, nem daqueles que nos visitam".
O presidente da Câmara Municipal de Faro acrescentou que a A22 “foi feita com fundos europeus e está paga há muito tempo”. “Portanto é diferente daquilo que acontece em muitas zonas do país”, sublinhou.

Recorde-se que durante a pré-campanha eleitoral para as eleições Legislativas de 5 de junho e quando o Governo de José Sócrates suspendeu a introdução de portagens na A22, Macário Correia afirmava que “pouco importavam os motivos da suspensão o importante mesmo era que não existissem portagens na Via do Infante” (ouvir audio).

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Pandemia do pânico


Pedro Passos Coelho ainda não se recompôs do “murro no estômago” que levou dos Mercados, apesar das juras de Amor Eterno, e já está a braços com uma operação de espionagem governamental, recordando os tempos de glória do KGB.

A escassos dias do seu primeiro mês de vida e já parecem haver preocupantes sinais de que poderemos ver o 1º Ministro no divã com alguma frequência.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

sexta-feira, 8 de julho de 2011

La La Land…

É comovente ver como o País está finalmente unido no diagnóstico e na defesa dos seus interesses. Afinal o afastamento de Sócrates teve o mérito de recuperar a lucidez e objectividade colectiva, há muito embargada pela malevolência e pelo desejo de vingança.

Aguarda-se, entretanto, que a política possa rapidamente sair do inexplicável estado de letargia em que se encontra, para que se voltem a debater os grandes desafios que o País inexoravelmente enfrentará nos próximos tempos.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

«Passos mantém TGV mas reformula o projecto»

Antes...


....Depois!


Fonte: DE

O Ovo de Colombo


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sexta-feira, 1 de julho de 2011

A Ferro e Fogo


O clima que vive a Grécia, e que ao que parece ter-se-á instalado de forma permanente nas ruas daquele país, é motivo de natural apreensão. A história parece repetir-se, uma vez mais a Grécia dita o futuro da sociedade moderna e do modelo social europeu, euro inclusive. Não poucas pessoas se apressam a sublinhar e acentuar as diferenças entre ”nós” e ”eles”, como se de um parente afastado leproso com fama de pilha galinhas se tratasse.

O que resulta deveras importante, e onde o nosso futuro se joga verdadeiramente, não é na idiossincrasia e na expressão que cada povo encontra para reagir à progressiva expropriação do seu modus vivendi, mas sim na incompreensível fórmula que tem sido insistentemente aplicada pela UE na Grécia, Irlanda e agora Portugal (outros se seguiram). Não deixa de ser sintomático o facto da última aprovação no parlamento do pacote de austeridade ter desencadeado reacções tão opostas. Jubilo na UE vs desespero na Grécia!

Bem sei que recorrer à analogia do doente peca por falta de originalidade, ainda assim, espelha bem a situação vivida naquele país. É hoje maioritariamente consensual que este antibiótico pode muito bem matar o paciente.

Enquanto isso, e quando apenas iniciamos o tratamento, não é compreensível que ainda tantos depositem tanta fé e esperança numa rápida melhoria…!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Direita Absoluta



Dar tempo ao tempo
É bom que a direita tenha alcançado a maioria absoluta e há a certeza de que PSD e CDS formarão uma coligação, assim não poderá imitar o primeiro governo de Cavaco Silva e terá de governar a legislatura, com condições para implementar o seu programa. Tem uma maioria parlamentar, tem um presidente em Belém, tem a comunicação social a apoiá-la. Agora pode implementar o seu programa e não precisa de se aliar à esquerda conservadora para demonstrar tudo que foi feito, pode suspender as Novas Oportunidades, pode “matar” o Magalhães, pode acabar com a avaliação dos professores, pode reabrir escolas com dois ou três alunos, pode financiar ilimitadamente a escola privada, pode reabrir serviços de saúde arcaicos, pode adiar sine die o TGV e o novo aeroporto de Lisboa, pode promover a “contra-revolução socrática” ao mesmo tempo que promove a sua revolução liberal.

Mas esta maioria absoluta é uma prenda envenenada que os eleitores deram à direita. O Alberto João pode festejar mas terá de se roer por dentro pois a aprovação do orçamento de Estado não depende dos seus deputados mas sim de o CDS que o detesta. Cavaco Silva pode sentir o alívio de não ser acusado de ter conduzido o país a uma situação igual à anterior mas não terá a influência que pretendia, Paulo portas será um travão à sua influência e ainda corre o risco de o aturar como ministro dos Negócios Estrangeiros, o que é quase tão difícil quanto aturar José Sócrates às quintas-feiras. Passos Coelho pode festejar a vitória mas não conta com apoio para a revisão constitucional que viabilizaria o seu programa e ainda tem como parceiro de coligação alguém ambicioso, experiente e inteligente, alguém que disse estar à esquerda do PSD e que apelou ao voto para poder combater os excessos de Passos Coelho.

A maioria absoluta ajudou a direita a livrar-se de Sócrates como Manuela Ferreira Leite tão desejava, une Cavaco Passos Coelho e Paulo Portas, algo que em vinte anos nem Deus ousou fazer, mas deixam de ter José Sócrates no parlamento para o explorarem como se fosse um espantalho. Passos terá que mostrar o que vale em vez de desviar as atenção para o passado. Agora já não poderá pedir desculpas por se abster no momento da aprovação do orçamento, já não poderá impor condições para aprovar medidas inadiáveis, já não pode dizer num dia que aumenta o IVA e no outro dizer que corta na despesa, já não pode propor um PEC por ser necessária a austeridade e no outro retirá-lo por ser austeridade a mais.

Cavaco não voltará a fazer discursos a defender que há limites para os sacrificar os portugueses mais pobres, principalmente os que nunca o deixaram de ser dele que ele próprio foi primeiro-ministro e o país chegou a ter que receber ajuda alimentar. Cavaco já não se lembrará de criticar os que questionam os mercados, condenando-os por ousarem irritar os especuladores, dentro de pouco tempo vai questionar a Europa por permitir a sua desregulação. Não poderá continuar a ignorar a crise internacional tal como o fez no seu discurso de posse, um discurso tão miserável na distorção da realidade que até Ramalho Eanes e Fernando Nobre o criticaram, falta pouco para que Cavaco faça como já fez uma vice-presidente do PSD e descubra que Portugal enfrenta a situação mais complexa que teve de enfrentar desde há mais de um século.

A direita tem a maioria absoluta mas desta vez não a tem para gastar rios de fundos comunitários, para privatizar banca e seguros, o país não conta com os fundos europeus, do que era rentável para o sector privado já quase tudo foi privatizado, desta vez a direita terá de mostrar o que vale em tempo de vacas gordas e em vez de deixar o país numa crise financeira como o fez por mais de uma vez no passado, vai ter de resolvê-la.

Um boa parte dos portugueses que deram a maioria à direita foram os que a deram recentemente a Sócrates e são os mesmos que depois afirmam detestar os poderes absolutos, que neste momento é absolutíssimo pois ao governo junta-se a Presidência da República e a propriedade da comunicação social e do poder financeiro por parte de militantes destacados ou simpatizantes do PSD. O PSD vai agora ser vítima dos seus argumentos, a estratégia seguida durante anos que pretendia levar os portugueses a confundir um governo estável com asfixia democrática virar-se-á contra o seu governo. Da mesma forma que os portugueses esqueceram o ódio a Paulo Portas e a Durão Barroso vão agora esquecer o ódio promovido contra Sócrates, dentro de pouco tempo as personagens das anedotas brasileiras passadas por emails deixarão de ser o Sócrates e leremos essas mesmas anedotas que nos encheram a caixa do correio mas desta vez com Portas e Passos Coelho como vítimas do ridículo.

É uma questão de dar tempo ao tempo (O jumento)

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Derrota clamorosa!

Não haverá outra leitura face ao varrimento eleitoral da Esquerda, com especial incidência sobre o PS e o BE, apesar de as causas serem bem distintas.

O Bloco de Esquerda - Renegou a possibilidade de ser diferente do PCP e de se apresentar como uma verdadeira alternativa de esquerda democrática e responsável. Nesta campanha ficou bem patente que aquilo que separa o BE do PCP, para além da idade do partido e dos militantes, é a capacidade de implementação na sociedade, sobre tudo ao nível das forças sindicalistas e representação autárquica. Ao Bloco não restam sequer as causas fracturantes que em tempos mobilizaram as ruas da capital.

O Partido Socialista - Não conseguiu evitar o mesmo destino de todos os partidos que tem estado na governação durante o impacto da crise financeira na UE. José Sócrates demite-se com grande elevação e dignidade, abrindo o partido à renovação, mas permitindo, sobretudo, que os partidos agora vencedores possam governar sem que a sua presença continue a comprometer a sua lucidez, clarividência e a tão aguardada paz de espírito.